Desde que, por motivos profissionais, tive que singrar no tomo norte do nosso país, recuperei o hábito de ver a bola fora de casa (abandonando o aburguesado sofá e a recôndita Sporttv). Tendo experimentado alguns espaços, optei por um daqueles cafés "à antiga", onde o futebol continua a ser a religião fundamental e o comentário ao jogo um acto de afirmação e, porque não, de higiene mental.
Acontece que os meus companheiros de sofrimento é tudo gente dos seus sessenta p'ra cima. A sua forma de ver o Sporting fez-me repensar alguns conceitos que tinha como seguros, sobretudo na maneira como vivem a actualidade do clube.
Nas minhas maduras trinta e cinco primaveras devo reconhecer que os momentos de apogeu do futebol leonino não foram, infelizmente, muito profícuos. Dois campeonatos, umas taças, outras supertaças e pouco mais. Contudo, senti sempre na minha meninice e adolescência o frémito e a crença renovada de direcções nem sempre muito habilidosas, mas em que a premissa sempre foi a mesma, ser campeão.
Ao ouvir a revolta quase incontrolável de um adepto já sexagenário, de súbito compreendi. O Sporting "dele" jamais se teria arrastado como o presente leão. Na sua óptica, o Sporting deve ser uma equipa brava, forte, determinada. Não consegue vincular-se a este Sporting envergonhado, trémulo, submisso. E esperneia. vocifera, insulta (como a gente do Norte tão bem sabe fazer).
Compreendi, naquele momento, que o grande perigo que o Sporting atravessa é precisamente esta crescente tolerância à mediocridade, ao continuado desrespeito dos princípios que fundearam este clube. As gerações que viram um Sporting dominador estão a desaparecer e quem as substitui carece desse "vício".
Ouço Paulo Sérgio e pergunto-me como foi possível terem-no tornado treinador do meu clube. Por muito que o esconda, está satisfeito com o 3º lugar. Afinal de contas, nunca tinha experimentado essa sensação e sabe. no fundo, que não mais a voltará a sentir.
E o Sporting?